A cada círio revivemos momentos inesquecíveis e de muitas emoções que só nesta época do ano percebemos o quanto somos carentes de afeto, afago, fé. Lembro de uma leitura que fiz há muitos anos e que fez-me sentir como aquele personagem bem paraense, marajoara e sonhador de "Chove nos campos de Cachoeira" do nosso tão estimado romancista Dalcídio Jurandir, caboclo até no nome, mas de idéias puramente líricas quando rememora as festas nazarenas. Ao narrar a euforia de Alfredo que "ao acordar com a cidade cheia de torres,, chaminés, palácios, circos, rodas giratórias que lhe enchem o sonho e o carocinho. De olhos abertos para o telhado, pensa na sua ida para Belém, estudar. A única vez que esteve na cidade era ainda bem pequeno. Mas tem lembrança de tudo que viu (...). Então a cidade para Alfredo era um reino de história encantada, toda calçada de ouro e com casas de cristal, meninos com roupa de seda e museus com muitos bichos bonitos. A cidade onde se fazia o Círio de Nazaré, o fatinho feito na loja, que seu pai lhe trouxe, o par de talher, os brinquedos raros e pobres que duravam uma hora." O sonho de ALfredo também era meu. Desejava, como ele, estudar na capital, sentir o vento bater no rosto enquanto na roda gigante e ver o brilho das luzes coloridas que enfeitavam a Basílica, e quem sabe, não voltar mais para o interior. O círio é uma fantasia que nos faz nostálgicos, eufóricos e esperançosos. No círio vivemos a alegria de estarmos juntos com parentes e amigos, falando de conquistas e sonhos, desejando que a força da fé nos torne pessoas melhores e, a cada círio, esperamos continuar sonhando como Alfredo, não mais com um reino de história encantada, mas com um reino de justiça, harmonia e paz entre os homens.
Um comentário:
O Círio é sempre um momento de muita devoção que inspira a todos que acreditam no poder da fé. Parabéns pelo saudosismo que rememoram épocas e grandes escritores.
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